
A cada seis meses, Samuel de Castro Santiago, de 43 anos, proprietário de uma pousada, gasta cerca de R$ 6 mil em manutenções por desgastes nos móveis e eletrodomésticos. O motivo do alto valor e da frequência é o nível de agressividade da corrosão dos aparelhos provocada pela maresia.
Uma pesquisa conduzida pelo professor Eduardo Cabral, revelou que a Praia do Futuro, em Fortaleza, no nordeste do país, possui a maior maresia do mundo, devido à incidência de ventos na região. A maresia é uma névoa fina e úmida formada por gotículas do mar e levada pelo vento.
A pesquisa revelou que a Praia do Futuro é a região mais agressiva em termos de deposição de íons cloro no ar, um dos principais componentes da maresia, superando outras cidades brasileiras e internacionais. Antes, São Francisco do Sul (SC) registrava a maior maresia do Brasil. Contudo, o estudo descobriu que a concentração média da Praia do Futuro é mais que o dobro da cidade catarinense.
No cenário internacional, a Praia do Futuro também se destaca. Quando comparada com locais que adotaram metodologias semelhantes, ela é 87,34% mais agressiva que a Nigéria, a segunda colocada, e 5149,63% mais que a Espanha, a última colocada no ranking divulgado pela pesquisa.
A elevada deposição de íons de cloro tem implicações diretas na corrosão de estruturas e materiais expostos. Marcos Moura, de 55 anos, é dono de uma oficina mecânica e mora na Praia do Futuro há 30 anos. Manter as ferramentas em boas condições é praticamente impossível, segundo ele, já que a maresia deixa os equipamentos completamente enferrujados. "De três a seis meses [após a compra], as ferramentas ficam cheias de ferrugem", conta.
E não é apenas a oficina que sai prejudicada. Os próprios clientes vão até o local em busca de soluções para veículos danificados por conta da corrosão. "É todo dia. De manhã, quando a gente passa a mão no carro, é puro sal", relata.
A psicóloga Rosita Vidal, de 67 anos, mora há quase dois anos na região e cita os prejuízos que já teve por viver próximo à Praia do Futuro. "Meu carro com menos de seis meses está com muita ferrugem na parte inferior do veículo. Minha TV com menos de dois anos simplesmente apagou a imagem", comenta.
Regiões litorâneas sofrem os maiores impactos da maresia. Quanto mais perto do mar, maior a corrosão de estruturas, veículos e eletrônicos. O professor Pedro Lima, do Departamento de Química Analítica e Físico-Química da UFC, explica como ocorre o fenômeno:
- A maresia é o ar carregado de gotículas de água salgada;
- O fenômeno acontece a partir da arrebentação das ondas do mar;
- As gotículas são arrastadas pelo vento para o continente;
- Por meio do vento, as partículas são depositadas nas superfícies que alcançam, sejam aparelhos eletrônicos ou estruturas de concreto.
Cabral explica que a forte incidência de ventos em Fortaleza faz com que a cidade tenha uma maresia mais penetrante.
É a partir dessa ação que ocorre o processo de corrosão. "Quando se tem uma solução salina depositada numa superfície metálica, há aí, um meio condutor para passagem de cargas elétrica (elétrons). Portanto, a corrosão é um processo eletroquímico, pois a gotícula salina depositada na superfície metálica será o meio que promoverá uma reação de oxidação metálica (corrosão) e a redução do oxigênio presente no ar que levará a formação de óxidos metálicos", explica Pedro Lima.
Quando o sal e a água do mar se depositam em um metal, formam uma solução que conduz eletricidade. Isso cria um ambiente propício para a passagem de elétrons, iniciando um processo de corrosão. A corrosão acontece porque o metal perde elétrons (oxidação), se desgastando. Ao mesmo tempo, o oxigênio do ar ganha esses elétrons (redução), formando óxidos metálicos, como a ferrugem. Esse processo é chamado de corrosão eletroquímica, pois envolve reações químicas ligadas à eletricidade.
Apesar de se beneficiarem da vista para o mar ou aproveitarem a chegada constante de turistas em um dos principais pontos turísticos da capital do Ceará, os moradores e empresários da região da Praia do Futuro precisam lidar com os efeitos da maresia, que impactam equipamentos e estruturas.
Conforme Cabral, o alto teor de cloro presente na maresia gera a corrosão ao aderir às superfícies de objetos metálicos. Os resultados são eletrodomésticos com manchas de ferrugem e até perda da funcionalidade dos equipamentos.
Para prolongar a vida útil dos eletrodomésticos e retardar o processo de corrosão, o professor esclarece que é essencial aderir a boas práticas de limpeza.
Lima recomenda uma limpeza frequente com pano úmido e detergente neutro para eliminar os agentes corrosivos que se acumulam nas superfícies dos móveis. Para madeiras, o uso de lustra-móveis é recomendado após a limpeza.
No caso dos eletrodomésticos, a recomendação é passar vaselina líquida na superfície dos aparelhos. “Esse produto ajuda na preservação e impede a corrosão pelos sais existentes nas gotículas de solução salina que são carreadas para os ambientes domésticos pelos ventos”, explica. Também é sugerido o uso de capas de tecidos de textura forte para cobrir os equipamentos.
Com informações do Portal G1