Durante a 42ª Sessão Ordinária da Câmara de Vereadores de Jaguaruna, o autor do livro “Campo Bom: a comunidade e balneário”, o senhor Celso de Oliveira Souza apresentou a obra que resgata, em detalhes, a formação cultural, os modos de vida e a trajetória histórica do litoral jaguarunense. Em uma fala de mais de dez minutos, o pesquisador — professor e animador cultural — emocionou o público ao explicar o processo de criação do livro, suas descobertas e a importância da preservação da memória local.
Um pesquisador movido pela cultura
O autor se apresentou como professor atuante em Orleans e profundo incentivador de projetos culturais. “Sou um animador cultural… trabalhei muito com projetos do Museu ao Ar Livre, da escultura do paredão, das semanas culturais”, contou. Ele explicou que sempre teve especial interesse pela história do litoral catarinense, sobretudo pela presença açoriana: “Eu sempre tive muita curiosidade pela cultura aqui do litoral, especialmente a voltada para os açorianos”.
Segundo ele, foram esses imigrantes que, desde 1700, estabeleceram os primeiros fundamentos culturais da região. “Eles aprenderam com os índios como viver aqui e transformar essa natureza em bens de sobrevivência”, explicou.
Açorianos como base da identidade catarinense
O pesquisador destacou a importância da etnia açoriana para o desenvolvimento de toda Santa Catarina. “No meu ponto de vista, os açorianos são a identidade do povo catarinense”, afirmou. Ele lembrou que, cem anos depois, chegaram italianos, alemães, poloneses, letões, negros e outras minorias, mas todos se apoiaram na base técnica e cultural deixada pelos açorianos: “Eles sabiam como se lidava com tudo que estava aqui, até com os índios”.
O autor reforçou que valorizar essa história é essencial para o desenvolvimento de qualquer comunidade. “Quando a gente não valoriza a nossa cultura, a nossa história e o nosso patrimônio, nós temos um desenvolvimento manco”.
Vida sem cercas, dificuldades e construção dos balneários
Durante a pesquisa, o autor se surpreendeu com aspectos do passado jaguarunense. “A escolha do cercamento… aqui em Jaguaruna até ontem não tinha cerca, eles criavam os animais soltos. Eu fiquei assim, surpreso”, relatou.
Ele descreveu a luta dos moradores que viveram longos períodos sem estrutura política ou apoio institucional: “Não foi fácil. Nada fácil. Foi muita dificuldade pra sobreviver”. A criação dos balneários, segundo ele, foi determinante para regularização das terras e melhorias sociais: “Foram legalizando as terras e as coisas foram se ajustando”.
Pescadores, agricultores e artistas
O autor fez questão de desfazer a ideia de que o litoral vivia apenas da pesca. “Não, o pessoal aqui plantava, cultivava, tinha artesanato interessante”, afirmou. Ele destacou ainda o orgulho local dos carpinteiros: “Os famosos artistas de vocês que botavam um saco de ferramentas nas costas e ficavam 40 dias fora construindo engenhos”.
Esses engenhos, explicou ele, levavam a técnica açoriana para toda a região. “Eram bons artistas, bons técnicos, contribuíram e levaram conhecimento para toda essa região”.
Patrimônios esquecidos e descobertas da pesquisa
O livro também reúne curiosidades históricas que surpreenderam até o próprio autor. “Minha surpresa é que Jaguaruna já teve uma salina… produziam sal lá no Campo Bom”, contou. Ele revelou que ainda hoje há marcas do antigo local de produção. Também citou as dunas: “As dunas mais importantes do Brasil estão aqui”.
Outra parte destacada da obra refere-se à criação do município: “Teve uma história bem interessante… foi criado, depois apagado, e depois recriado”, relatou. Ele incluiu no livro textos históricos encontrados durante a pesquisa, incluindo um estudo do professor Amadio Vitoreti.
O poeta de Campo Bom
Entre as descobertas marcantes, o autor revelou ter encontrado em Campo Bom um artista local que contribuiu para enriquecer o livro: “Um artista… o seu Pedro Rico… escreveu sobre a história de Campo Bom e Jaguaruna em versos rimados, muito bonito”. O pesquisador organizou esses escritos e transformou o material em obra literária.
Busca por patrocínio e previsão de lançamento
Assim como em projetos anteriores, o autor busca apoio financeiro para viabilizar a impressão do livro. “A gente conseguiu mil volumes porque fomos atrás de patrocínio”, explicou. “Estou convidando vocês a ajudar no patrocínio… quando lerem, vão achar muito interessante”, falou aos vereadores.
O lançamento está previsto para fevereiro de 2026: “Está previsto para o dia 19 ou 20/02/2026… queremos fazer um grande evento, com folclore, boi-de-mamão, terno de reis”.
Pesquisa marcada pela fé e pela superação
Ao final, ele relatou que parte da pesquisa foi concluída após enfrentar a COVID-19: “Fiquei 70 dias no hospital… o médico sempre me diz: ‘tás vivo por Deus’. Eu estou aqui por Deus”, afirmou emocionado. Segundo ele, a obra levou cerca de cinco anos de pesquisa.
Antes de encerrar, o autor pediu que os vereadores lessem o livro e dessem retorno à comunidade: “Gostaria que vocês lessem… e que pudéssemos ter um retorno disso”.
A sessão terminou com agradecimentos dos vereadores, que reconheceram a relevância da obra para a preservação cultural da região. Um deles destacou: “Também sou de família açoriana… nossa região foi povoada e desenvolvida pelos açorianos”.
O lançamento marca um novo capítulo na valorização da história e da identidade de Campo Bom, celebrando suas raízes, personagens e sua contribuição para Jaguaruna e para o litoral catarinense.
0 Comentários